Cantos de Intervenção: Pragmático afã em pôr uns quantos na linha, cow boys dão em escalavrar caos de recente balcânico conflito. Quando travam gatilho, e ouvem coração? - O miolo do pão: Bem se afadigam lavradores a sol escaldante lançando na rasgada terra mínimas sementes. Bem se dão incansáveis ceifeiras, com golpes certos, à seara. Malha-se na eira, destrinçando na palha loiras espigas e nas loiras espigas precioso grão. Mós remoem o que será terna farinha. Afanam-se aclarando a noite empoados padeiros: Amassadas, a forno levam fornadas e fornadas. Inquietam-se motoristas, e ajudantes: Em carrinhas brancas trazem bênção à alta antemanhã. Cuidam comerciantes em abrir portas pra darem a dinheiro desejado pão. Cristãos rezamos aO Pai para o pão quotidiano nos prover, porém no planeta da fome produz-se armamento e falta o bem pedido. Homem com boa vontade, olha para o pão. Quando o partires, julgues tu embora que ninguém ouve, diz obrigado. Talvez por sorte um coração magoado multiplique por mil o cereal grão até aos irmãos desesperados, recôndita alegria. - Zeca: Na tarde lenta recostavas-te pelos bancos corridos da CGD à Luísa Tody esperando que caísse na tua magra conta alguma pensão ou tença das usualmente concedidas a Famintos de Paz. Ar acossado d’anónimo kosovar a quem são dadas roupas lavadas, sabonetes, pasta de dentes, toalhas, alguns desodorizantes, ousaras soltar teu grito desperto de clarim: ‘Um rio de sangue do peito aberto sai!’ Pague-se-te já agora a paga certa: Se, no fim, caíste, faça-se-te no talhão em que não cabes reflorir das flores vermelhas da madrugada os frescos cravos, pra que para sempre viceje da canção que és a chã certeza. - Vou cada vez mais perto do fim sem professores e sem mim. - ‘Feliz gente: Com duas realidades. E eu sem ter nenhuma…’ Então, Zé, em que ficamos? Na sequência dos dias. O caso é simples: Estamos cá, mas não somos de cá. Onde vamos? Não sabemos. A que viemos? A entendermo-nos por palavras. O que conta? A inteira verdade. De que escreveste, concluo: Nem terra, porque perdidos em grande entroncamento. Nem céu, porque olhos não temos até à tenuidade. - ‘Viver estranho e isolado num mundo que se pretendia habitado e harmonioso é viver suicidado, viver morto vivo, num mundo de nado-mortos…’ Se os jornais não dizem o Reino de Deus: Na China das prisões que ninguém sabe, nos lugares sem policiamento, no cansaço de quantos não querem armas, e suam, sim, seu pão parco sem palavras, no ignorado nidificar do amor, no indetível pulo até à Face Clara, nUm Insólito Circo Universal. - Vítor Baptista: Foste mesmo o maior na voragem: O coveiro te olhou sublime, autêntico, camarada; sob cinzenta farda, nó cego na gravata, ao padre-nosso murmurado do cura, te reconheceu, no íntimo, como és, seu e meu irmão; lançou-te então boa pazada. Tiveste uma vez a tua mãe. Quando vinda manhã, por Sesimbra do sol, o Jaguar estacionavas, junto ao bar, pra beberes, co’a malta, os derradeiros copos. Vitória Futebol Clube, Lisboa e Benfica, Desportivo Estrelas do Faralhão, concitou-se maralha, feliz sociedade. Jornais vomitaram teu nome em caixa alta, com a verdadeira foto, em primeira página, quando atiras duro para golo. Achavas já o adereço d’orelha. Olha, olha, louco varrido, quanto baste polido, p’lo Bonfim galgas, Apolo montado um cavalo, enquanto clareia além. -
Cantos de Intervenção:
ResponderEliminarPragmático afã
em pôr uns quantos na linha,
cow boys dão em escalavrar caos
de recente balcânico conflito.
Quando travam gatilho,
e ouvem coração?
-
O miolo do pão:
Bem se afadigam lavradores a sol escaldante
lançando na rasgada terra mínimas sementes.
Bem se dão incansáveis ceifeiras,
com golpes certos, à seara.
Malha-se na eira,
destrinçando na palha loiras espigas
e nas loiras espigas precioso grão.
Mós remoem o que será terna farinha.
Afanam-se aclarando a noite empoados padeiros:
Amassadas, a forno levam fornadas e fornadas.
Inquietam-se motoristas, e ajudantes:
Em carrinhas brancas trazem bênção à alta antemanhã.
Cuidam comerciantes em abrir portas
pra darem a dinheiro desejado pão.
Cristãos rezamos aO Pai para o pão quotidiano nos prover,
porém no planeta da fome produz-se armamento e falta o bem pedido.
Homem com boa vontade, olha para o pão.
Quando o partires, julgues tu embora que ninguém ouve, diz obrigado.
Talvez por sorte um coração magoado multiplique por mil o cereal grão
até aos irmãos desesperados,
recôndita alegria.
-
Zeca:
Na tarde lenta recostavas-te pelos bancos corridos da CGD à Luísa Tody
esperando que caísse na tua magra conta alguma pensão ou tença
das usualmente concedidas a Famintos de Paz.
Ar acossado d’anónimo kosovar a quem são dadas roupas lavadas,
sabonetes, pasta de dentes, toalhas, alguns desodorizantes,
ousaras soltar teu grito desperto de clarim:
‘Um rio de sangue do peito aberto sai!’
Pague-se-te já agora a paga certa:
Se, no fim, caíste, faça-se-te no talhão em que não cabes
reflorir das flores vermelhas da madrugada os frescos cravos,
pra que para sempre viceje da canção que és a chã certeza.
-
Vou
cada vez mais perto
do fim
sem professores
e sem mim.
-
‘Feliz gente: Com duas realidades.
E eu sem ter nenhuma…’
Então, Zé, em que ficamos?
Na sequência dos dias.
O caso é simples:
Estamos cá,
mas não somos de cá.
Onde vamos?
Não sabemos.
A que viemos?
A entendermo-nos por palavras.
O que conta?
A inteira verdade.
De que escreveste, concluo:
Nem terra,
porque perdidos em grande entroncamento.
Nem céu,
porque olhos não temos até à tenuidade.
-
‘Viver estranho e isolado
num mundo que se pretendia
habitado e harmonioso
é viver suicidado,
viver morto vivo,
num mundo de nado-mortos…’
Se os jornais não dizem o Reino de Deus:
Na China das prisões
que ninguém sabe,
nos lugares sem policiamento,
no cansaço de quantos
não querem armas,
e suam, sim, seu pão
parco sem palavras,
no ignorado nidificar do amor,
no indetível pulo até à Face Clara,
nUm Insólito Circo Universal.
-
Vítor Baptista:
Foste mesmo o maior na voragem:
O coveiro te olhou sublime, autêntico, camarada;
sob cinzenta farda, nó cego na gravata,
ao padre-nosso murmurado do cura,
te reconheceu, no íntimo, como és, seu e meu irmão;
lançou-te então boa pazada.
Tiveste uma vez a tua mãe.
Quando vinda manhã, por Sesimbra do sol,
o Jaguar estacionavas, junto ao bar,
pra beberes, co’a malta, os derradeiros copos.
Vitória Futebol Clube,
Lisboa e Benfica,
Desportivo Estrelas do Faralhão,
concitou-se maralha, feliz sociedade.
Jornais vomitaram teu nome em caixa alta,
com a verdadeira foto, em primeira página,
quando atiras duro para golo.
Achavas já o adereço d’orelha.
Olha, olha, louco varrido, quanto baste polido,
p’lo Bonfim galgas, Apolo montado um cavalo,
enquanto clareia além.
-
Onde por lapso lê
ResponderEliminar«montado um cavalo,»
passará a le:
«montado num cavalo,
enquanto clareia além.»
...passará a ler:
ResponderEliminar«montado num cavalo,
enquanto clareia alaém.»
...passa a ler
ResponderEliminar«montado num cavalo,
enquanto clareia além.»